Está na ordem do dia a discussão sobre os benefícios e malefícios da inteligência artificial (IA). Trata-se de uma discussão muito importante para o futuro estilo de vida, modos de trabalho e, no limite, para o futuro da humanidade. Contudo não deverá ser uma discussão exagerada, demonizando a tecnologia.
Olhando o passado recente da história do homem encontramos outros exemplos onde as descobertas científicas e sua aplicação tecnológica também indiciavam um potencial extermínio da humanidade, mas tal, até ao momento não aconteceu. Embora o perigo possa estar latente.
Falo, por exemplo da energia nuclear e da modificação genética. É certo que o perigo de ambos paira sobre a humanidade, mas também é certo que a primeira permite a produção de energia, hoje considerada das mais limpas e uma alternativa à energia fóssil e a segunda gerou o conhecimento capaz de resolver uma pandemia num espaço de tempo record e com um número de vítimas, face à população mundial, proporcionalmente inferior a anteriores pandemias.
Não é a ciência ou a tecnologia que são boas ou más; como afirma o filósofo Edgar Morin[1], é a consciência com que são feitas e aplicadas que determina os seus benefícios e malefícios.
Assim, também as consequências da inteligência artificial, serão benéficas ou maléficas em função da consciência que a cria e utiliza.
A tecnologia tem sido o motor de desenvolvimento da humanidade, retirando e aligeirando trabalho ao homem e dando-lhe melhores condições de vida.
Segundo Max Tegmark[2] do MIT esta evolução da vida pode classificar-se em 3 estágios:
· 1.0 – Vida puramente biológica onde os seres vivos apenas sobreviviam e se replicavam.
· 2.0 – Vida cultural, onde já existe inteligência que cria a cultura/conhecimento e onde o homem tem uma intervenção (boa ou má) na evolução do Mundo, através do desenvolvimento tecnológico.
· 3.0 – A tecnologia cria-se a si mesmo.
Antes da inteligência artificial vivíamos o estágio 2.0, com o surgimento da inteligência artificial estamos mais perto do estágio 3.0.
Se até aqui o homem sempre controlou (bem ou mal, mas tinha esse desígnio), através da consciência, a criação de tecnologia. Com o surgimento de uma inteligência não biológica, o perigo da criação de uma tecnologia prejudicial aumenta exponencialmente se não controlarmos o que esta aprende e cria.
É um pouco como a espécie humana, se uma criança não for bem-educada e/ou for exposta a mau conhecimento e influências, o seu potencial para a marginalização é muito alto.
De facto, estamos perante a tecnologia mais parecida com um humano e que mimetiza um dos fatores diferenciadores da espécie: a inteligência e a aprendizagem. É normal que o sentimento de ameaça ou descontrolo seja maior.
O contributo da inteligência artificial para a evolução a humanidade tem sido, como referi, amplamente discutido. No livro Life 3.0, o autor apresenta uma padronização e segmentação dos pensadores e researchers sobre o tema:
· Utópicos Digitais: pensam que a vida digital é o próximo e natural estágio.
· Tecno-sépticos: consideram que a vida digital autónoma não ocorrerá nas próximas centenas de anos e que, por isso, não há motivo para preocupações. A humanidade deve preocupar-se em resolver os problemas concretos e presentes.
· Movimento da IA Benéfica: considera que a IA terá uma grande evolução nos próximos 100 anos e que vai ser benéfica para a humanidade.
Considero-me no grupo de pessoas que pensam que a IA é benéfica, mas que devem existir alguns cuidados, principalmente no que a deixamos aprender, a fim de evitar o surgimento do que considero as Máquinas Más, isto é, que são colocadas a aprender e processar conhecimento que não trará resultados benéficos para a humanidade.
A inteligência artificial não tem emoções, mas pode ter um algoritmo de valores humanos que pode evitar as máquinas más e/ou criminalizar o seu desenvolvimento. Um grande contributo para este efeito são as recomendações éticas para inteligência artificial da UNESCO.
A consciência de quem cria e usa a inteligência artificial, a par com uma aprendizagem fundada num sistema de valores será, a meu ver, o que permitirá a coexistência da inteligência humana, da inteligência homem-máquina (ciborgue) e inteligência máquina.
Precisamos colaborar todos, nesta discussão e construção.
[1] Morin, Edgar; Ciência com Consciência; 1994; Europa América.
[2] Tegmark, Max; Life 3.0; 2017; Penguin Books
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